Paciência! Terás a recompensa dos justos risonhos
A violência me abraça com suas arma e drogas
Eu sou o mal. Crio guerras e discussões
Eu a amo loucamente e de tal forma
Eu tinha vergonha de ser punk
A mente tem lapsos como pensamentos entrelaçados
O tempo é feroz assassino/ Destrói a esperança da gente
Se uma foto falasse quanto diria da saudade
O meu irmão é um problema de hospício
De que vale viver na dor, doença, miséria ou humilhação?
A arrogância é um rato que arranha a raiva
Sou uma estrela que vive no mar
Quero ser uma estrela, um símbolo sexual
A evolução das espécies é a evolução das almas
Tua luta é da família de amor e abraço
Teus passos são luzes e veias explodindo no espaço
Mãe, catedral de carinho, doçura e alegria
Tua força é a de exércitos marchando alforria
Tuas mãos são de professora da perseverança e fé
Quisera ter enciclopédias para equiparar-me a tua bondade
Pois ela é infinita como o universo e a saudade
Que chovam sobre ti montanhas de risos e flores
E teu banquete seja o dos escolhidos pelas dores
Se tua cruz é pesada, é que Deus te pede demais
Para dar-te milhões de vezes mais a Grande e preciosa Paz
Todo bicho e planta tem alma
Todo escravo e índio tem alma
A evolução é como sair de um exoesqueleto
E vestir outro esqueleto mais forte
É a passagem da lagarta para a borboleta
A evolução do pensamento e das ideias
É a busca da ética, da estética, do valor
É a busca da ciência
É a busca da filosofia, da crítica e da fé
A evolução é infinita como o tempo
E o final da Evolução, do Tempo e do Espaço
Se chama Deus e sua Perfeição
Os anjos e santos são um degrau acima
Abaixo, o ódio e toda a maldade
Corrompem os instintos animais e desejos humanos
A linha da evolução é o novelo do tempo
Os erros são um caminho necessário
Para se adentrar no castelo das certezas
A evolução é o único caminho do Paraíso
O Éden é a terra perfeita para o homem perfeito
Enquanto isso, caminhamos, amigos, caminhamos.
Um artista rico, famoso e benquisto
Quero ser capa de revista e ter cachê alto
Faço qualquer coisa para aparecer
Invento uma tentativa de suicídio, faço que pulo de um edifício
Fico pelado em frente a uma câmera ou na praia
Participo de show de calouros para ser vaiado
Faço strep-tease para a alta sociedade
Canto desafinado o “Desafinado” de Tom Jobim fora de tom
Faço discurso a favor de uma revolução qualquer
Digo que sou guerrilheiro em potencial
Canto piada, viro palhaço de cara lavada
Não suporto mais o anonimato
Andar pelas ruas e sentir um poste, um qualquer, um nada
Não suporto não ter amigos com quem desabafar
Conversar besteira, trocar ideias
Não que a fama e o dinheiro só trazem bajuladores e interesseiros
Mas detesto a solidão.
Ninguém que chegue até você
E lhe dê os parabéns, que lhe admire por algo que você fez
Queria explodir minhas vaidades
E ser uma estrela
Mesmo que mais uma
Dentro de uma constelação!
Ela me estupra com seus desvios de verbos
Ela é perfumada nos altos escalões do governo
Invade minha intimidade, devassa meu lar
Se xingo, perco a razão, sou egoísta
É que a violência também ferve no meu sangue
Como fogo que invade a alma pacata
E me transforma em vingança, o ódio, ganância
Somos todos soldados lutando pela sobrevivência
Fechando portas e janelas para o pedinte faminto
Como vermes, sugamos os defuntos com pensões
Estamos numa guerra, onde os fortes têm prazer
E dos miseráveis é tirado até o que não se tem
A violência explode em nós pelo menos uma vez por dia como uma refeição.
Sou fantasma das sombras do ódio e do terror
Espírito descontrolado em busca de vidas perdidas
Sou a dúvida e os instantes mais pobres
Sou a intolerância, discriminação, separação
Sou a opressão e humilhação do poder
Minhas terras são sepulcros de ganância
Minhas águas o orgulho da prepotência
Sem mim, não existiria o prazer da vingança
O deleite dos prazeres proibidos, pecados contidos
Sou o medo atrás da porta, nas sombras da noite
O desconhecido e suas armas misteriosas
Sou o absurdo tenebroso e fatal das tragédias
A fatalidade e suas lâminas de desespero.
Que aceito ser pai de seus filhos
Aceito ser traído, aceito que ela queira se deitar com outros
Quero lhe dar a liberdade de ser feliz
Seja ao meu lado, seja do lado de quem ela queira
Sou seu escravo, eu a obedeço cegamente
Se ela me quiser eu nuco, então me castrarei
Volto à infância, me masturbo, brinco com seus filhos
Me torno um idiota doentio, se assim ela ordenar
Meu cérebro é seu iogurte, se ela quiser deliciá-lo
Regrido a animal irracional no cio e sem passado
Se ela quiser eu roubo, mato e morro, por ela
Sou seu computador que ela programa como quer
E assim sou feliz de vê-la feliz e poderosa
Prisioneira de náufragos loucos
Eu amei como quem quer matar
Sangrando minhas dores aos poucos
Os amores que tive são chuvas
Que desabam lágrimas de vil rancores
Todos completavam a mim como luva
Mas depois, punhais, só me deixaram dores
Sou uma triste flor que arrebata a terra
Um dragão de fúria em busca de aconchego
Transbordando de ciúmes, mas diga quem é que não erra?
O mundo é uma concha pra o tamanho do meu ego
Pois como ceder pra cada pessoa que passa
Se sempre me criticam não importa o que quer que faça?
Ela vê o luxo e o transforma em bicho
O arrogante quer mudar o curso do rio com um uivo
Faz de um ursinho uma arma do seu eixo
O arrogante quer lutar contra o inferno e o céu
Quer fazer do hóspede, um inimigo inconveniente
Transforma a tesoura da fortuna em julgado réu
Faz do humilde cordial em covarde subserviente
Mas o arrogante teme que o mundo lhe fira
Pois já fora mui ferido em sua triste desdita
Faz do seu cruel cemitério a suprema safira
Pense que a força e o grito são frases certas, benditas
Onde estava o arrogante no sexto dia da criação
Quando foi dado livre arbítrio a um macaco sem intuição?
Que os céus me levem logo antes de me deixar no sofrimento!
Meu corpo não aguenta a dor. Minha alma não tolera a opressão
Sou livre e criativo, além das janelas do sentimento
Não posso ser massacrado ou padecer numa cama, se contorcendo
As chagas do lamento são mães da loucura, do desespero doentio
O ódio pela vida é o próximo passo. A vontade de matar, quando se está morrendo
A pior morte é ser consumido por dores e depressão em estado senil
O abismo infernal do sofrer é pétala amarga e fervente
Que transcende o bem e o mal num delírio psicótico
É um não existir das ideias ideais do ser vivente
É o destruir as muralhas da esperança num som ilógico
Que nossos dias sejam de saúde, pois a doença é loucura
Que santifica e faz demônios dos homens que não tem cura
Sua revolta é por ser pobre e sem sorte
Melhor pobreza que viver sempre em suplício
E nossa família é unida até na morte
Mas o danado resolveu ser um do contra
Ir contra todos, seguir por sua conta
Queria casa, comida e mulher sempre pronta
Trabalho nunca foi a sua ponta
De bar em bar, bagunça em bagunça ia
Mais um candidato a delinquente da rua
Quis até, recompensa, agredir minha filha
Dei queixa dele pra alertar sua lua
Mas a mula, pra conselho era surdo
Encontrou um mais brabo que ele, que o matou, pela primeira vez, mudo!
O amarelecido brotando ouros e nobrezas
A tristeza dos olhares, magnetismos de verdades
O cheiro drummoniano de enterro e certeza
De que o fim é a foto desbotada da mesa
As bocas fechadas são as grades da maldade
Esperando só o instante seguinte pra sobremesa
Lambuzar-se de tramas e traições numa tragédia da bondade
As rimas dos semblantes são ricas, belíssimas
O preto e branco mostra sobriedade grega
A revolta e a angústia bailam tristíssimas
Sobre o vestido remendado que um terço carrega
A foto esconde um passado perdido, pedregoso
Como as pedras do seu riacho que chora dengoso.
Faz do velho irritado o menino/ De viúva esnobe, a moça carente
Muda os ideais do nosso orgulho/ Transforma em guerra, a paz do viver
Embaralha os sentimentos no escuro/ Faz do desespero o que era prazer
Dá bengalas ao engatinhar do bebê/ Dá sono a um dia corrido
Dá orvalhos a um temporal de morrer/ Dá sol a um cego perdido
Traz choro a uma festa de risos/ Traz flores a um cemitério covarde
Traz verdades aos tolos indecisos/ Faz cedo o que fora já mui tarde
O tempo também concilia/ Aproxima inimigos de morte
Une extremos: a noite e o dia/ Cura as dores sangradas do corte
É um elo que liga mil mundos/ Misturando tudo e todos num nó
É o pai dos sentimentos profundos/ faz da vida e da morte um só.
Em que se pensa em algo que talvez nunca tenha ocorrido
Como vários possíveis passados
Sem falar das várias versões que se pode pensar sobre uma túnica
A mente é uma floresta imensa de segredos
Cujos relâmpagos são neurônios digladiando
Lá, se escondem lobos, chapeuzinhos de medo
É uma Terra do Nunca crescendo e se recriando...
Na mente, cabem o agora e a criança de sempre
A angústia faz as pazes com a alegria e o horror
Podemos ser quem quisermos como queremos, eternamente
A mente é um cofre, cuja senha é a dor
Dos símbolos dos sonhos podemos voltar ao paraíso
Num útero de verdades e remorsos que são preciosos
Tinha vergonha de minhas ideias
Porque não acreditava nelas
Deixei de ser totalmente subserviente
A um revolucionário pós-punk
Eu quis ser líder, perfeito, gênio, idolatrado
Terminei meus dias frustrado e cansado
Eu era um egoísta vaidoso e enrustido
Escondia minhas verdades de todos
Escondi tanto que minhas verdades se esconderam de mim
Me tornei um idiota patético e inútil
O mundo não precisava de mim
Nem eu precisava de mim
Eu me despreguei de mim mesmo
Minha frustração chegou ao limite da depressão
Me anulei ao ponto de sair da realidade
De me achar inferior a todos, um zero a esquerda
Eu que era totalmente instinto a intuição
Me tornei um falso racional, calculista
Eu tinha um animal selvagem dentro de mim
Querendo devorar o mundo inteiro
Mas como eu o prendi na cela de meus preconceitos e intolerâncias
Este animal acabou me dilacerando!
Era assassino, estuprador e ladrão
Tinha um cara arruaceiro cantando de galo
Metendo medo na rua em que eu moro
Palavrão e armas brancas eram sua força
Eu em casa, com filha doente, me acovardava
Eu, que peço em ônibus mostrando a foto
Da minha criança que não anda e chora
Não aguentei no dia que ele xingou
Dizendo que minha filha era deformada e feia
Atraquei-me com o tal adepto da canapis
Dei-lhe uma surra. Como quem degola uma galinha
Ele se despenou e eu me senti delegado
Depois a rua perdeu o medo e processou-o
O lobo-mau foi expulso por sua vovó
Que não aguentou aquela cruz tão fedorenta.
O mundo rodava em sua mente-leão
Seus instintos eram cadáveres voando
Seu nariz farejava corpos assando
Era um sapo pulando apuros e paixões
Camaleão mudando de ódios e prisões
Buscava a liberdade de escolha e vaidades
Como anjo bailarino entre sonhos e cidades
Suas garras arrancavam cabeças e futuros
Cada alma perdida se unia a outra num quarto escuro
E a reza chamava vingança com uma sede de deserto
E o nosso ator planeja seu caminho incerto
Sou solitária como um deus criador
Estou me distanciando como um lunático
No princípio, era o medo de pecar, de errar, de mudar
Sou da vida, meu amor é por dinheiro e prazer
Querem que eu seja escravo de tudo e de todos
Me perdoe. Deixo os filhos e uma fotografia
Era mal, sabia-se mal e não se importava
Se via em seus olhos ciscos, via nos dos outros, treva.
Não mereci teu respeito e o bem que me querias
Mas o mundo é maior que uma casa de tédio
Não aguentava o choro das crianças e tu sério
Minha liberdade é uma chuva que me molha
E eu não quero me enxugar. Não quero toalha
Que o sol se envenene. Quero enchentes em minha alma
Quero ser amada, cobiçada com pressa e com calma
Tempestade de feitiços não me farão mudar
Quero sentir ódios, sofrer, sorrir, sentir o estar
Quero estar viva como uma cadela
E no cio ser de quem me queira feia ou bela
Que as estrelas se cravem em meu corpo inteiro
E me façam sangrar, inundar o mundo e ligeiro!
Que eu dê minha vida por cada uma pessoa
Mas não quero ser mártir de nenhum povo
Ninguém merece uma morte à toa
Querem a perfeição, mas me sinto bem com erros
Não quero ser máquina pra me governarem
Quero eu mesmo fazer e chorar meu enterro
E que as cinzas da ganância se exasperem
Não é que eu veja a verdade no sol e na lua
É que temos limites da infância, inconscientes
Nossa glória é a de qualquer um da rua
Bom é aquele que usa a língua frente a frente
Ah! Eu queria uma vida sem o peso da responsabilidade
Pois o que vejo é a ganância e a inimizade.
Maldade é enganar, causar angústia ou sofrimento
Minha profissão é só carícias, liberdade e lazer
Se eu envelhecer, não terei medo do tempo
Pena que terei de ter um trabalho chato, sem palavrão
Não serei mais objeto pra se usar e abusar
Serei uma estátua certinha como santo de altar
Mas meu peito serão de fantasias e sensação
A carne não é pecado. A carne é a alma
Quero ser surrada, implorada, mal-falada
Contanto que eu goste e seja o centro da parada
Longe de mim, a flor do tédio e sua calma
A dor é minha amiga. Busco nela a chama do orgasmo
E aos que se penitenciam, com minha alegria, deixo-os pasmos
Depois, o espírito da luta pairou sobre as águas do comodismo
E o rock sambou frevo, e num repente criou-se a coragem
O Homem rebelou-se e quis ser Deus da Criação e Originalidade
Apesar de ser mortal, imortalizou as obras, pensamentos e atitudes
Fez-se carrasco, anjo, advogado de si e do fora-de-si
Quis impregnar as paisagens com seus concretos e forças
Quis cantar a dor e a alegria em cores tortuosas e imprecisas
Herói de seu braço, conquistou o espaço e o átomo com garras
Leão feroz, rei dos animais, filosofou crenças e anti-crenças
Falhou muito com suas misérias, doenças, governos e prepotências
Mas foi potência além dos limites da natureza e dos sonhos
Criou mundos num mundo finito, pobre, fraco e sem estrelas
Foi mártir e covarde, responsável e preguiçoso. Foi arte!
Perdendo as grades do real, apático
Meu sangue não circula, apenas dorme
Estou ficando calado como quem some
Os óvulos dos instintos se afogaram em tédio
Minha vida é um, à noite, tenebroso cemitério
Onde as lembranças morreram sem sentido
Meu passado é de um tempo mais que perdido
Hoje sou inútil como um lago triste e feio
Minha sombra paira sobre um mundo cheio
E uma criança em mim chora alucinações
Sou o aborto de um eco surdo: minhas emoções
E dentro da caverna dos meus sonhos fracos
A morte imensa quer ser pra mim o carrasco!
Os filhos que tive me deixaram só com a dor
Os homens que tive não me deram amor
Os sonhos que tive já perderam sua cor
Minha companhia são um gato e a televisão
Costuro pra fora pra ganhar algum cifrão
As fofocas após a novena são minha diversão
Meu carnaval são as velas e os cantos da procissão
Meus dias são cinzentos como um cigarro ruim
Sigo os dias a conta-gotas esperando o fim
Nem netos tive o prazer de criá-los pra mim
Não tive amigas, nem irmãos. Solidão somente
Queria a esmola de amar a vida docemente
Mas quem diz que a vida é união, mente!
Era pai de família respeitado, respeitador
Busquei a perfeição numa estrela perdida
A cebola dos teus olhos sangrou o teu pavor
Senhor, dá-me sangue de barata
Rosa era flor murcha sem perfume
O Homem é o acúmulo de suas neuroses
A chuva é o céu chorando sonhos
Queria ser eu e outros além de mim
As coisas que eu não posso ter, ver ou sentir
Eu vivi uma vida sem destino
A política não é templo de milagres
As paredes do casebre são ossos podres
Morreu porque quis. Conhecia o marido
Quando ela morreu, quis não ligar
Eu era criança de trança e boneca
Me dava e vendia pelo amor de teus beijos
Nem ligavas pra mim. Só me achavas sapeca
Não via que eu tinha ardentes desejos
Cresci de corpo, fiz-me mulher feita
Mas meus caprichos e sonhos de boneca continuam
Agora me queres, me achas perfeita
Me desejas em teus braços que suam e me buscam
Mas agora quero a outras e muitos e tantos
Tu não passavas de príncipe que o tempo desencantou
Te humilho, te piso e tu ficas aos prantos
Tu és meu boneco que eu uso e desprezo
No canto te deixo, te esqueço, me vingo do que passou
O mundo é meu, os homens são meus e eu aconteço!
Mas a roupa foi mofando, o jantar esfriando
Nosso lençol não mais se amassando
Tudo foi ficando fora do seu lugar
Não ouvia mais o espinho de suas reclamações
No começo fui gostando. Depois, a saudade
Tive medo de esquecer sua voz nas solidões
Não tivemos filhos, pedaços de eternidade
Me lembro do seu riso frouxo, engasgado
São esse ecos que fabricam as lágrimas
Doces cristais de um bom passado
Aprendi a fazer minha comida, tão ruim
E eu que reclamava do sal. Ai, que dor, querubim
Do livro celestial, foram as mais belas, nossas páginas
Nunca traíra a esposa ou, dos filhos o amor
Viajava muito no caminhão pelo mundo
Sentia-se solitário, depressão profunda
Certa vez, num bar parou para jantar
Uma dama se ofereceu para acompanhar
Ele recusou. Começou a zombaria
Diziam que ele ou brocha ou veado seria
Caso recusasse convite numa noite fria
Ele viu sua honra à prova, em agonia
Gritavam, xingavam, apostavam com o Senhor
Ele por fim cedeu só para provar o seu valor
No quarto, duas máquinas nojentas, sem prazer
Apenas dois animais sem nenhuma razão de ser
Em quem mais confias, este será teu delator
O traidor é faca sem rumo, enferrujada
É lobo feroz com língua atroz de ator
É amigo fiel de tua manhosa namorada
O traidor é teu colega de trabalho engraçado
É o que fala dos outros. Depois será de ti
Não confie em ninguém que tenha passado
Os maus fazem o mal pra depois sorrir
A traição é um banquete frio de canibais
É como a vingança só que mais calculista
A vingança vem do ódio. A traição é audaz
Nasce do egoísmo, da vaidade imprevista
A traição é de fé em si e só em si mesmo
São as águas da falsidade inundando o tempo
Bela mais que fera numa tela de marfim
As chamas dos teus olhos são estrelas quentes
Resplandecendo o ouro da candura do teu sim
Enfim, és repleta de seios nos teus dentes
O coração de tua boca abala e bate-que-bate
Pulsam nervos em teus instintos furiosos
E o sol de teus sonhos se abre em combate
E tua nudez é para meus olhos curiosos
Fera mais que bela numa treva do sem fim
Sua boca é peixe rubro esperando ser pescado
Num beijo de desejo que ensejo ser pra mim
Treva numa tela de uma bela tão querubim
Espero pelos vulcões do teu sorriso ser arrastado
Como meteoro em busca de um planeta povoado
Andei a pé pelos bairros chamando teu nome
E teu nome era de outra pessoa: de bandida
Quando, então, te achei, de mim tu somes
Teu corpo diante de mim, mas tua alma outra é
Não me querias, nem eras a pessoa que sonhei
Foi louco que se partiu o cristal de minha fé
As pessoas não são como quero, logo pensei
Imaginei-te romântica como as donzelas bestas
Eras mulher pós-realista com espinhos e músculos
Na foto de criança, vi tua certeza em festa
Pra te entender ao vivo, precisei de óculos
Os óculos de minh’alma estavam baços, insanos
Agora, exorcizo, como um gato, sentimentos profanos.
A areia de teu ventre inundou o meu aquário
O deserto de teu sonho me acolheu em teu amor
Tens cabelos, em abismo, são estrelas e rosário
A maçã do peito teu é azul da cor do sonho
Os teus pés de avenida atropelam meu despeito
Tua pele de urtiga me instiga, e me disponho
O meu templo sem imagem te pintou o teu respeito
Ó vida plena de espelhos, é teu o meu reflexo
Ó morte plena de segredos, é teu o meu porvir
Ó alma plena de mistérios, meu côncavo é teu convexo
Espero teus peixes, tuas bocas e portão
Estou fechado e seco, sem dentes, ilusão
Abre-te, rede imensa, me segures se eu cair.
Para sufocar meus inimigos de bravata
Pois para perdoar é preciso não ter sentimentos
Para suportar a maldade só com sangue frio, sem lamentos
Senhor, dá-me drogas para aplacar meus ódios e frustrações
Pois só sedado para suportar safadezas e humilhações
Não suporto mais tantas críticas e intrometimentos
Não tenho privacidade, autonomia. Só aborrecimento
Ninguém me respeita. Minha opinião é lixo
Sou cada vez mais vulgar, apesar de prolixo
Sou marionete nas mãos do destino que me anula
Prefiro a liberdade de uma puta que as regras de uma santa pura
Só anulando as emoções para suportar fanáticos e hipócritas de plantão
Senhor, faz-me apático para tolerar e perdoar este mundo de competição!
Não gostava do seu corpo gordo de bolo
Invejava a irmã, bunda de vaga-lume
Achava seu marido um bêbado, um tolo
Quisera nunca ter tido filhos: dor de cabeça
Quisera nunca ter casado, foi ingenuidade
Quando moça, não sabia o que era tristeza
Hoje, a fome é companheira de verdade
A miséria é seu manicômio e seu lar
Tomou pílulas. Ficou intoxicada e não morreu
Foi só uma dor a mais no seu bailar
Bailarina, rodopia nos palavrões como quem tudo perdeu
Um dia, talvez, a filha case com um rico
Traficante. A vida melhore. Se feche o circo.
A hipérbole de seus primeiros traumas
O ser atormentado por consciências atrozes
A extinção dos prazeres instintivos da própria fauna
O Homem é antena que capta os pensamentos
De quem morre, de quem sofre antes do suspiro final
Há uns que são perfeitas antenas dos sentimentos
Estes se anestesiam, o transe torna-se banal
Traumas, instintos, sinestesias r inconsciente
A razão não existe no Homem em movimento
O mais lúcido é por vezes um demente
Sorte ou azar são poderes titânicos do pensamento
Da morte só temos ecos, ecos distantes
A matemática é canção de notas dissonantes
De quem vive esperando suas espigas
O sertanejo bravo rompe a terra medonho
E impõe-se ser de vidas e intrigas
É indignado com o inferno da política
E batizado pelas lágrimas dos seus filhos
Desde novo tem de trabalhar, analítico
Cada estrela no chão de sementes tem seu brilho
Ele, ardo selvagem de espinhos e sombras
Vê a palidez da ironia em um cadáver
Alguém que deu a vida pra plantar alimentos
Morre de fome num deserto sangrento
Seu cemitério ri-se da franzina população
Pois, da cova, o sertanejo ainda bate seu coração
Ter riqueza, fama, saúde e poder
Ter a eterna juventude do Serafim
Ser culto. De tudo, um muito, conhecer
Beber o mel de todos os prazeres possíveis
Estar além do bem e do mal, instintos
Ser rei de palácios e haréns incríveis
Não morrer ente feras famintas
Mas meu caminho é de sombras, cansaços
Sou espantalho entre monstros medonhos
Meus nervos são dores, mortes, espaços
A lei é tudo contra o que eu disponho
Girai, mundo terrível com suas cordas palhaço
Ria de mim! Pois tropeço a cada passo!
Consomem, mastigam meus instintos de lobo
Sou um porco na lama em busca de pérolas
Meu mundo é limitado como um quarto pequeno
E eu me debato querendo quebrar as correntes
Sou um frustrado sem oportunidades de brilho
Estrela morta e escura sem reflexo no mar
Queria ser além da compra, me expandir, entrar em outros corpos
Queria ser uma floresta e me sentir múltiplo
Mas meus dias são catedrais de rigor e seriedade
Sou uma estátua nobre, mas sem valor ou graça alguma
Não trago novidades em meus bolsos ou mãos
Meus pés pisam a calçada comum dos comuns
Ah, surpresas boas e mistérios, por que vos escondes de mim?
Nada quis e nada fiz
Fui o vazio de minhas ações
Hoje sou velho, terminal
Minha doença me consome
Estou sozinho num asilo
Sou tratado como um bicho
Um mendigo enlouquecido
Sem amigos ou abraços
Não vejo sentido que há na dor
E este tempo é desengano
Sou um bispo sem igreja
Desengano é o meu vil nome
Sou soldado sem guerra
O que fiz não aplaudiram
Esquece-se, então, meu sobrenome
Sou ninguém, sem identidade
Um deserto sem oásis
A ingratidão me assassinou
Sem dinheiro, me humilharam
No canil eu vim parar
Minhas ideias se perderão no tempo
Serei só mais uma nuvem
Ninguém se lembrará do meu sorriso...
Ninguém multiplica verbas, nem exorciza corruptos
Os demônios convivem com os anjos em paz
Ninguém reparte túnicas ou aceita insultos
O dízimo dos tributos é sempre cobrado
Ma as ressurreições dos direitos não é feita
Talvez a fé dos eleitores esteja abalada
Mas a assunção dos eleitos é satisfeita
Contudo é preciso separar o joio do trigo
Nem só de palavras vive o político honesto
Mas de todas as ações que mostraram ser do povo um amigo
É preciso ver se não houve o nepotismo-incesto
Cuidado, o começo dos tempos políticos está vindo
Eis o sinal: Como se esperasse o ladrão, espere o político voto pedindo.
De podres cores com atores podres de dores
As panelas amassadas amassam a fome
Que a alma da calma do homem sem nome
O piso da casa é a chama do inferno frio
Aonde o sono com sons de cigarra no cio
O sono é leve como a fome que rói devagar
No ar, em altar para os pecados purgar
A revolta guardada sai dos poros gritando
Socos e palavrões. Pais e filhos se vomitando
Marido e mulher em guerra de espinhos e pedras
Ele, no futuro, será preso por não pagar pensão
Cegos todos se aturam na escuridão do dia-a-dia
Serão todos crucificados e ironizados em sua agonia
Sabia a peça que era, via-o bandido
Ele batia nela com gosto e vontade
Botava chifre nela sem mágoa ou saudade
Ela era sua cadela, ossos, escrava
Era um lixo que ele cuspia. Nunca lavava
Mas ela acreditava que iria mudar
Ninguém muda almas sem muito lutar
E a luta dela era calada, submissa
Mas a maldade nasceu no berço da preguiça
E ele parecia que tinha preguiça de ser bom
Ela parou de usar colar e batom
Mulher que não se cuida, é defunto de gente
Ela adoeceu. Ele tratou-a como indigente
Ela morreu. Ele não fez luto e sorriu
Na outra semana, tava com uma puta que dele pariu